quinta-feira, 30 de julho de 2009

O caos sonoro

Não é de se estranhar que uma cidade deste tamanho seja tão barulhenta. A poluição sonora na cidade de São Paulo, em determinados ambientes, ultrapassa em muito o limite do aceitável. Ou do suportável. Existe uma porção de maneiras e números para se provar isso, mas uma pessoa não precisa estar ao lado da turbina de um avião para entender que 110 dBA é um barulho insuportável.

Enfim, quem foi morar em Moema não tem o direito de reclamar! O Aeroporto de Congonhas têm 73 anos, facilmente uns 20 a mais que a primeira casa (não sede de chácara) do bairro. Assim como eu acho complicado reclamar do som de torcida nos estádios do Morumbi, ou Pacaembu. Deve ser difícil para um morador de uma antiga tranquila avenida ser obrigado a se mudar em função do som dos carros ou ônibus, mas essa é a dinâmica da cidade. Se não se comportar quase que organicamente, está morta. A cidade muda.

Acontece que muitas vezes a origem no problema é a população. Geralmente passa pela falta de respeito. Quase sempre ocorre pela falta de bom senso. É comum que a pessoa não se dê conta. É popularmente tratado como falta de simancol. Não é nome de remédio, mas bem que poderia haver um, genérico mesmo, baratinho, distribuído em postos de saúde, gratuitamente.

Um bom exemplo é a velha e boa(?) buzina. O sujeito simplesmente senta a mão no meio do volante à qualquer sinal. Vai trocar de faixa, buzina. Quase foi fechado, buzina, janela aberta e uma sonora saraivada de impropérios. Não foi fechado, buzina - pra garantir, nunca se sabe. Até aí, citei casos aonde ela pode ser necessária. Mas, em meus dez anos de experiência como motorista, confesso que nunca consegui executar o milagre dodesengarrafamento através das orações monotônicas do veículo.

A Código de Trânsito diz que a buzina deve ser usada comente em casos emergenciais. "Vamos logo, cara. Buzine que já entramos no túnel!" Melhor nem comentar. Assim como vou passar os motoqueiros gerando aquela explosão no escapamento. Assunto autoexplicativo. Tem a ver com a teoria evolucionista de um tal de Carlos Roberto Darwin.

Por outro lado, é com imenso prazer que eu critico os chatos de celular e rádio. O sujeito acha que o Nextel é um walkie-talkie. É o desejo de ser segurança de boate: "QAP, QRA?" Mas o grande problema é que de Nextel pra Nextel sai muito barato falar, então tem gente que só se comunica pelo rádio, fazendo questão de deixar em viva voz, para todos à sua volta saberem o drama está passando a assistente de produção! Falar apenas alto é parte do passado; tem que ouvir a resposta alto também.Sem citar aquele bipe.

É muito chato! O Nextel pode ser usado como um celular, não é difícil. Se você aprendeu a usar o garfo e a faca, garanto que conseguirá apertar o botão sem vê-lo. Ainda tenho esperanças que, um dia, usar o rádio em viva voz seja considerado tão cafona quanto usar pochete à frente. Até esse dia, continuarei olhando feio para os chatos de Nextel.

Já o celular com música, temo que seja inevitável. Quem nunca teve o prazer de ouvir as últimas novidades do forró arrastado pé-de-serra em alto (e mau) som no conforto de uma viagem de ônibus? Melhor ainda: aquela moça que resolveu escolher o toque do celular enquanto espera na fila do banco. É tanto fanqui carioca bom que nem sabe o que pôr. Lembro claramente da vez que sentei abaixo do adesivo "proibido uso de aparelhos sonoros", mas quem tocava brega no celular era o cobrador. Para quem reclamar? Temo pelo futuro. Dias negros virão...

A verdade é que educação e cidadania não surgem de uma hora para a outra. Para quem não gosta de cobrar dos outros uma postura melhor, seguramente não haverá problemas em melhorar a sua própria postura. Antes de buzinar, pense. E desligue esse viva voz. QSN?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O nosso pôr do sol

Um dia desses fui sozinho passar o final da tarde na famosa Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro. A respeito do sujeito em questão não dá pra saber muita coisa. Dizer que ele foi genro do terceiro Barão de Monte Santo não ajuda muito! Talvez por isso o nome da praça apareça sempre acompanhado do apelido: Praça Pôr do Sol.

Encosto a minha bicicleta na grama e me deito à frente, apoiando a cabeça no selim. Me culpo por ter esquecido o livro. Mas não é um grande problema. O panorama compensa. Veja aqui!

Pela praça se vê de tudo. Famílias com cachorros, famílias sem cachorros, adolescentes e jovens, adultos e casais. No canto direito jovens pais cuidam de seus filhos que brincam no parquinho. Á minha frente três moças bonitas se sentam sobre uma canga e brincam com uma pitbull branca mansa.Outras pessoas levam toalhas, ou até cadeirinhas. Mais abaixo costuma ficar o pessoal que leva instrumentos musicais. O som não chega encima, pois a praça é declinada. Outros levam vinho, cerveja, comida, salgadinhos.

No verão o pessoal fica bastante tempo por lá, tomando sol, jogando conversa fora, vendo o dia passar, acompanhando o caminho do sol pelo céu paulistano, até seu derradeiro descanso próximo a um conjunto de edifícios vizinhos ao Parque Villa-Lobos. No inverno a praça fica com cara de parque europeu, com pessoas agasalhadas se aquecendo voltadas para o oeste, esperando o evento que apelida a praça, que geralmente é acompanhado por alguns aplausos (pra quem prefere o pôr do sol a um chopp na Vila Madalena, aplaudir deve ser quase natural).

A Praça Pôr do Sol parece ser uma imagem daquilo que São Paulo queria ser. O céu que nem parece tão poluído quando se tem à sua frente a vista do arborizado Alto de Pinheiros, seguido pelo verde intenso do Campus da Cidade Universitária. Alguns edifícios cortam o horizonte, mas nada parecido com os maciços cinzentos espalhados por toda a cidade. As pessoas que frequentam o lugar costumam ser educadas. A praça quase sempre está limpa, com a grama cortada. Não há muito barulho.

De sua encosta se vê uma São Paulo muito bonita, que não condiz com o pensamento pessimista do paulistano. Vistas como esta, e tantas outras desconhecidas, em qualquer cidade do mundo seriam belos cartões postais, motivo de orgulho, locais de visitação, de turismo. Mas o paulistano costuma ser mau vendedor, porque prefere exaltar os pontos negativos, como se dissesse: "não diga que eu não avisei!"

Enfim, separem um dia de sol de um desses domingos sossegados e vá até a Praça Pôr do Sol. Leve uma câmera fotográfica, um livro, algo para beber, petiscar, amigos, crianças, cachorros (e os saquinhos...). Após os aplausos, não esqueça de deixar o local limpo, apesar da pequena quantidade de lixeiras; se você o trouxe quando ainda se chamava embalagem, pode levá-lo também quando se chamar lixo.

Segue uma foto tirada com o celular nesse dia. Aparecendo o conjunto de edifícios, esse poste e um belo pôr do sol, já se sabe de onde foi tirada a foto.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Inferno Diário

O trânsito deve ser uma das piores rotinas que temos em São Paulo. Não há como negar o caos diário. Se tempo é dinheiro, imaginem os milhões e milhões de reais perdidos todos os meses na capital financeira do Brasil. Trajetos que são feitos à noite em trinta minutos levam às vezes duas horas para serem feitos na hora do rush. Ah, sim... qual é a hora do rush?

Conceitos historicamente usados como desculpas crônicas pelas administrações municipais - sempre empurrando o problema com a barriga - tais como hora do rush, gargalos e afunilamentos, excesso de veículos etc. já não valem mais. Pergunte a qualquer taxista (se tiver coragem de tomar um taxi!): "qual é a hora do rush?" A resposta é fantástica: "não tem!", ou "o dia todo".

Antigamente, perdíamos meia hora pra cruzar uma avenida e depois disso o trânsito fluía. Esses eram os pontos críticos de trânsito. Às vezes a supressão de uma pista gerava igual transtorno. Hoje em dia, depois do gargalo tem mais engarrafamento. Passar a tal avenida é ainda mais difícil, porque o motorista tem que adivinhar se os carros que estão à frente vão andar ou se ele vai bloquear o cruzamento.

Excesso de veículos, ao menos, é uma desculpa que nunca vai caducar! Desafio qualquer pessoa a pegar um ônibus cheio, passar uma hora de pé se segurando enquanto o motorista conduz impaciente o ônibus num acelera-freia que joga uns contra os outros, para finalmente, se espremer constrangedoramente pra chegar à porta, e preferir isso ao conforto de um automóvel. Sem citar uma infinidade de variantes desagradáveis que ainda podem ocorrer para tornar essa rotina ainda mais desconfortável.

Com a qualidade dos nossos transportes públicos é difícil condenar o "egoísmo" dos que preferem o transporte particular. Ainda que podemos sim condenar o fato de que grande parte dos veículos - preparados pra levar não menos que cinco pessoas - são em sua maioria ocupados pelo condutor apenas. Esse assunto dá muito pano pra manga, e pode ser discutido em diversas frentes, em diversos aspectos. Eu tenho algumas opiniões bastante polêmicas e pretendo expô-las aos poucos.

Discutir São Paulo sem criticar certos - e muitos - pontos é quase impossível. Pretendo mostrar nesse espaço o que, na minha opinião, a cidade tem de bom, ainda que exista muitos problemas a serem resolvidos. Tentarei alternar as críticas com os elogios.

E só pra deixar um gancho: Viva a bicicleta!