segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Descendo a Serra do Mar de bicicleta


 
Há exatos onze meses atrás a ciclista Márcia Prado morreu atropelada por um ônibus na Avenida Paulista. Quem já disputou espaço com ônibus em São Paulo sabe que não é difícil isso acontecer. Ignorando, por hora, essa guerra diária no trânsito, quero falar sobre um espaço "ligeiramente" mais tranquilo e mais agradável.

Próximo sábado, dia 19/12/09, ocorrerá um passeio ciclístico gratuito pela SP-148, estrada desativada que liga São Paulo a Santos. A intenção dos organizadores é criar uma rota turística chamada Rota Cicloturística Márcia Prado, em homenagem à ciclista morta três dias depois de ter pedalado o Caminho do Mar. Cansei de ouvir falar dessa rota, da beleza da paisagem, da tranquilidade, da vista. Até o Rei já contou como é!

É incrível como temos um potencial turístico enorme totalmente subutilizado ou mesmo desprezado. Serra do Mar, Serra da Cantareira, Represas de Billings e Guarapiranga, aldeias indígenas, cratera de meteoro, cachoeiras etc. Isso tudo dentro do Município de São Paulo. Logo ao lado da cidade temos Pouso de Paranapiacaba - o lugar mais úmido do Brasil - aonde fica a Usina Henry Border, a Calçado do Lorena - primeira estrada pavimentada da América Latina - repleta de construções da década de 30, o trem turístico que ligará São Paulo a Santos, entre uma infinidade de opções. Ainda voltarei a esses temas.

Voltando ao passeio, devo admitir que ainda não fui por falta de planejamento. Agora terei mais um chance, a última oportunidade antes de completar 28 anos (se não for até a meia noite não vai mais!). Se tudo correr bem, estarei lá com alguma bicicleta emprestada, uma capa de chuva na mochila, um Cebion no estômago e alguns amigos a tiracolo.

Alguém me acompanha?



segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cuíca Poste

Depois de quase um mês sem nenhum post novo, devido a um misto de preguiça, provas da pós,  e outras razões menos nobres, volto com alguns destaques recentes.
 
 
Da Disney para São Paulo


Saiu em diversas publicações que São Paulo, até 2014,terá 5 linhas de monotrilhos. Pra quem não conhece, monotrilhos são aqueles bondinhos que ficam suspensos em um trilho único. É o Monorail que pode ser encontrado na Disney e em Las Vegas. Mas que também está presente em diversas cidades do mundo, principalmente no Japão. Tem um ar de cidade do futuro de filmes antigos. O que fica óbvio no Experimental Prototype Community of Tomorrow, ou Epcot (Center) – um dos parques da Disney.
 
O monorail começou a ser usado com sucesso a partir da segunda metade do século XX. Tem vantagens e desvantagens em relação a outros meios de transporte.  Não vou me aprofundar no tema, mas vale citar que é mais barato que o Metrô, pode ser instalado em avenidas sem a necessidade de se fechar as vias, utiliza menos espaço e estrutura que outros transportes suspensos . E quando falo de outros meios não estou nem pensando na aberração que é o Expresso Tirandetes.
 
Como desvantagem, não é dos transportes mais baratos, cria uma estrutura elevada que não considero muito bonita – para ser elogioso. Mas talvez seja um ranço meu motivado por aberrações como Minhocão, e o próprio ex-Fura-Fila (uma das próximas postagens será sobre o Elevado Costa e Silva).

 
De uma forma geral, creio que será uma opção interessante para uma região em que a rede de transporte público está mais que estagnada. Numa cidade aonde qualquer obra pública causa imensos transtornos, temos que pensar que existem alternativas além de ônibus, metrô e trem.

 
500 Milhas do Rio Tietê


A Cidade de São Paulo foi escolhida para sediar uma prova da Fórmula Indy. Venceu Salvador, Ribeirão Preto e até a queridinha do Brasil, Rio de Janeiro. Na verdade, não estava nem na disputa, mas parece que o ego do Eduardo Paes já ta mais alto que o Cristo com o Corcovado. Acabou sobrando pra São Paulo, já que Salvador enfrenta alguns problemas estruturais e Ribeirão era carta fora do baralho.  Acho engraçada a atitude de políticos que acham que a nomeação de sua cidade ou país para um evento é algo pessoal. Se alguém lembrar de política depois das Olimpíadas ou da Copa no Brasil, creio que não se lembrará de Lulas e Eduardos ou Kassabs. No máximo serão lembrados os prefeitos, governadores e presidentes que estiverem no poder.
 
Enfim. A bomba não é a notícia principal. A prova não será disputada no clássico Autódromo de Interlagos, porque a organização da Fórmula 1 não permite outros eventos do mesmo tipo nos autódromos (muito bem) contratados. A intenção é que seja feita uma corrida de rua!
 
Não sei como está o trânsito de Mônaco por esses dias. Mas não acho que um principado de 1,95 km² e 32.406 habitantes se importe muito com o fechamento das ruas por uns quatro dias. Já São Paulo...
 
Eu, como amante do automobilismo, adorei a idéia. Como cidadão, fico bastante preocupado. Citei o rio Tietê porque uma das idéias é fazer a prova em suas marginais.  Preferia que fosse feita na Avenida das Nações Unidas, no rio Pinheiros. Acho muito mais bonito, porque o Tietê, infelizmente, foi transformado num caixão de suas próprias águas, faltando somente a tampa. Quando há corrida na USP, a ponte Cidade Universitária já fica caótica. Quando há Maratona de São Paulo, várias ruas são bloqueadas e o motorista tem que se virar pra atravessar trechos de percurso. E não tem áreas de arquibancadas  tubulares nem proteções de pneus para corredores! Como farão para instalar toda a estrutura da F-Indy em São Paulo? Vamos ver no que vai dar!
 

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

São Paulo e(´) Música – parte I


Adoniran Barbosa tragando a branquinha matinal.



Há algo na alma de cada cidade que dita o tom das músicas que a ela é dedicada. Pode ser um exagero lírico usar o termo alma, então troquemos por aura, ares, atmosfera. O fato é que ninguém canta São Paulo exaltando o espigão da Paulista, as árvores do Ibirapuera, a serra da Cantareira. As músicas que homenageiam são Paulo não passam pelo Parque da Independência, e visitam pouco as ruas de Higienópolis e Jardins. Pode parecer óbvio, mas não é.

Os baianos amam cantar Salvador e a Bahia. Cantam de suas terras, de seu mar, de suas ilhas, como se estivessem vendo um álbum de fotografias. Cantam a Ilha de Itaparica como se ela acabasse de ser descoberta por algum navegante, ou sob a ótica de um pescador que vai com sua jangada aportar em suas areias. A Baia de Todos os Santos é cantada e recantada. Hoje, passar uma tarde em Itapuã não é muito diferente de se passar uma tarde nas Astúrias do Guarujá. Mas quando se canta Itapuã, somos levados a ver imagens de uma praia paradisíaca, aonde é impossível não ser feliz.

Que não se confunda o que digo. Isso não passa nem perto de ser uma crítica. Apenas tento provar meu ponto de vista. Como exemplo, a música Beira Mar, de Gilberto Gil:



Somente mar ao redor 
Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo mundo exista
O melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar 
A ilha de Itaparica
   



Acho que junto à Bahia, apenas o Rio de Janeiro foi tão bem provido de poetas que se esmeraram em cantar suas maravilhas. A tríade Rio, Búzios e Angra dos Reis é recorrente. Para mim, Angra dos Reis, Paraty e Ilha Grande, são imbatíveis. Para os compositores cariocas, o tema preferido é a Cidade do Rio de Janeiro. Já comentei no post anterior: é difícil encontrar uma cidade mais provida de belezas naturais. A Bossa Nova, dando nova conotação à sofisticação do Jazz, misturando com samba e outros ritmos nacionais, foi o estilo mestre na exaltação das belezas cariocas. Vinícios e Tom, para mim, os dois maiores da Bossa, souberam como poucos expressar o Rio de Janeiro, e o sentimento de ser brasileiro. Explorando aquela melancolia típica do blues, ou do fado, os poetas da bossa nova cantaram a felicidade e tristeza, o amor e a saudade. Como pano de fundo, a Cidade Maravilhosa. Tom Jobin, no Samba do Avião diz:

 

Minha alma canta 
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar Praia sem fim
Rio, você foi feito pra mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
  


Outros compositores, de todo o Brasil, também cantaram o Rio. O samba, tradição dos morros e da malandragem carioca cantou as favelas, desmistificou a vida do trabalhador pobre assim como fez do malandro um personagem querido. Canta-se a alegria do morro, do carnaval, do povo carioca.Seria injusto se eu dissesse que estão maquiando a sua realidade. Não há mentira no que é dito. São pontos de vista, necessários para que possamos ser felizes, mesmo nas adversidades.

Mas eu simplesmente não posso ignorar que ao lado de Pães de Açúcar e Corcovados há uma infinidade de barracos aonde impera o tráfico de drogas e a miséria, além de outras mazelas sociais. Lagoa Rodrigo de Freitas, Aterro do Flamengo, não são lugares imaculados. A Pedra da Gávea não está lá sozinha no meio de uma inabitada Floresta da Tijuca. Não é tão inabitada assim. "Tá tudo dominado". Falo do Rio, mas Salvador não é diferente.
Não digo que eles ignoraram isso tudo. Mas se pensarmos nas letras, nos prós e contras, o saldo é altamente positivo.

 

Voltemos então a São Paulo, considerada a mais dura das cidades Brasileiras. Penso que o Paulistano é, por natureza, crítico. Não diria um pessimista, ou São Paulo não seria São Paulo. Talvez melancólico. Mas se eu me ater tão somente aos paulistanos aqui nascidos, estarei me esquecendo de grande quantidade de poetas e compositores que cantaram São Paulo. Imigrantes do Brasil e do mundo. Pouco exaltam do belo quando cantam São Paulo. Falam da dor, da dureza do cotidiano, da chuva.

Eu, como paulistano, vejo de dentro para fora. Mas sempre me imagino vendo pelos olhos de alguém que não conhece a cidade. Se meu primeiro contato com São Paulo fosse a música Sampa, e eu lesse:



Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas 


...tendo que escolher entre a avenida Paulista e Copacabana, não pensaria uma fração de segundos. Tom Zé, baiano apaixonado por São Paulo cantava em São São Paulo:


São, São Paulo meu amor
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor


Esses dois exemplos não são muito animadores, mas é fácil entender. Afinal, ambos vêm da imagem criada pelos imigrantes que vieram para São Paulo atrás de um sonho de uma vida digna. O sonho não é de uma vida digna em São Paulo, e sim no retorno à sua terra. Gente veio para São Paulo imaginando ser uma fase passageira, em nome de um benefício maior, de frutos que seriam colhidos no futuro. Qual não seria a decepção dessas pessoas ao ver que o quadro pintado não revela a paisagem real? Milhões vieram e nunca mais voltaram para casa. É compreensível sua decepção. Ainda que os artistas em sua maioria estejam ou estiveram aqui por opção, cantam o que os olhos de tantos outros vêem.

A música dedicada à São Paulo é quase sempre coberta de esperanças e dor, alguma revolta, alguma indignação. Uma das bandas mais paulistanas, o Ira, cantava "Pobre São Paulo, pobre paulista". Sentimento parecido se encontra com frequência em Titãs, em Inocentes e outras. O rock paulista vale um post inteiro. Fica sempre marcada a crítica à sociedade, paulista assim como brasileira. Nem sempre a tônica é a revolta. Ultraje a Rigor, minha banda nacional preferida, transformou a revolta num crítica inteligente, com humor ácido e perspicaz. Em Vamos Virar Japonês:



Somos todos um bando de caipiras
Adorando o que vem do estrangeiro
Comparando também não me admira
Basta ver o produto brasileiro
Vamos progredir de vez
Vamos virar japonês!




Apesar da brincadeira infeliz de Vinícios, São Paulo não é o túmulo do samba*. Adoniram Barbosa, talvez o maior sambista paulista, cantava São Paulo com os trejeitos dos trabalhadores italianos. Em sua obra há sambas alegres, e outros nem tanto. No lugar da favela, o cortiço, a Saudosa Maloca:


Se o senhor não "tá" lembrado
Dá licença de "contá"
Que aqui onde agora está
Este edifício "arto"
Era uma casa "véia"
Um palacete assobradado
Foi aquí, seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca
"Construímo" nossa maloca


Outro sambista paulistano, Paulo Vanzolini - recentemente homenageado com um documentário - fez um grande número de canções com São Paulo como pano de fundo. A música Ronda, numa votação recente foi considerada a música com a cara de São Paulo:
 


De noite eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar
No meio de olhares espio em todos os bares
Você não está

E neste dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João
 
A música é linda, mas o final não é lá muito feliz! Enfim, pode-se ficar dias discorrendo sobre isso. Não é uma tese, não é um estudo. Nada do que eu disse são mais do que impressões e constatações. Sempre haverá quem não concorda, e exemplos que me contradizem. Tento aqui generalizar mesmo. Não é para ser bom ou ruim, melhor ou pior. É o que eu vejo, como paulistano. E você, como vê?














Perdizes, visto do viaduto da Av. Dr. Arnaldo sobre a Av. Sumaré

*Nelson Motta põe pingos nos is sobre essa frase em Noites Tropicais. Resumindo a partir de recordações não muito precisas, Vinícios assistia a uma apresentação em São Paulo e o público falava muito alto. Ele exclamou a frase indignado, e algum jornalista espertinho fez o desfavor de espalhar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

São Paulo e(´) Música – Introdução






São Paulo é uma cidade estranhamente musical. Não seria estranho afirmar que aonde há  dinheiro há cultura. A cultura e a música estadunidense é difundida por todo o mundo. Mas a cidade aonde se respira um ar não muito agradável, respira música. Pode paracer estranho associar uma cidade tantas vezes estressante e caótica com a música, mas não é.

Não foi em 1922, na Semana da Arte Moderna, que a cultura surgiu em São Paulo. A cena cultural era já bastante forte. O evento culminou como uma celebração da nova cultura, genuinamente brasileira, que surgia. Ainda que não tenha surgido apenas em São Paulo, a cidade foi escolhida como palco. Penso que talvez essa escolha tenha sido uma forma de reafirmar a quebra com os valores passados, tão bem representados na Capital Federal, à época, a cidade do Rio de Janeiro.

De lá pra cá a cidade sempre foi um efervescente palco cultural. Principalmente da contracultura. Era difícil se projetar fora do eixo Rio São Paulo. Mais ainda no Rio de Janeiro.

Não por outro motivo o Tropicalismo viria a aparecer num clima subtropical. Quando lembramos dos mais famosos tropicalistas, logo vem à mente Gil e Caetano (sempre citados assim, como uma dupla sertaneja, ainda que há tempos não apareçam juntos), Tom Zé, Novos Baianos. Todos eles, em algum momento, viveram na cidade - Tom Zé, na verdade, se casou com a cidade. Vieram mostrar suas canções nos festivais da Record em São Paulo, e da Globo (no Rio). Sem esquecer da prata da casa: os Mutantes, a banda que melhor representou a cidade.

Quase uma década antes, a Bossa Nova surgiu com toda a sua elegância e sofisticação, de João Gilberto, do maestro Tom Jobim, do poeta Vinícius. Muitos artistas que não faziam parte desse grupo acabaram por se mudar pra São Paulo pra tentar a sorte tocando aquele som novo e contagiante que ouviam de Beatles e Rolling Stones. A Record, em 1965 lançava o programa Jovem Guarda, aonde Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléia, Vanusa, entre tantos outros, cometiam a heresia de tocar rock’n roll. Essas histórias estão todas muito bem relatadas no livro Noites Tropicais, do Nelson Motta (boa pedida!).

Essa busca do novo, às vezes até mais simples ou tosco, sempre foi mais forte em São Paulo que no Rio de Janeiro. “A sofisticação da Bossa” x “as guitarras do Iê Iê Iê”, “A anarquia artística do modernismo” x “A forte influência acadêmica francesa”. Claro que esta é uma maneira grosseira de analisar. Nem me passa pela cabeça comparar Bossa Nova com Jovem Guarda, apenas destaco a possibilidade da segunda ter existido.

Hoje, a cena cultural é mais homogênea; bastante forte em outras cidades. Em Salvador, em Brasília, no Recife, em Curitiba, em Porto Alegre,em Manaus, em todas elas e tantas outras se tem acesso à cultura. E mais importante, a possibilidade de se produzir. Mas São Paulo continua sendo a capital da cultura e da contracultura.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Rio de Janeiro, parabéns! Parabéns?

Hoje não falarei de São Paulo. Eu tinha algum tema fantástico para escrever, mas acabei esquecendo, então vou aproveitar a deixa e falar sobre os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016. Sou contra os jogos no Brasil.

Primeiramente, se engana quem acha que São Paulo estará de fora disso. Porque haverá jogos de futebol no estádio do Morumbi, até onde sei. Mas muito mais porque devido à distância, à importância econômica, ao Aeroporto de Cumbica e uma série de fatores, deve haver bastante movimento por aqui também.

Enfim, este blog não vai se prestar ai papel de discutir a eterna rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo. Se o tema do blog é explorar o que São Paulo tem de bom, certamente não será diminuindo o Rio que isso será provado. Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa, mas na minha opinião, não devido à malha urbana, e sim ao sítio geográfico sobre o qual surgiu. Há bairros bonitos e bairros feios. Há muita pobreza assim como riquezas aparentes. No aspecto urbano, não sei se alguma cidade brasileira realmente grande pode ser chamada de maravilhosa. Talvez a mais interessante seja Curitiba. Talvez.

O fato é que ninguém tem o Corcovado, a Baia de Guanabara, o Pão de Açúcar, e todos esses cartões postais que as novelas da Globo fazem o papel de divulgador oficial pós Bossa Nova. Pensando nas cidades que eu conheço, pessoalmente ou não, acho difícil encontrar um lugar mais impressionante para uma Olimpíada.

Às vezes eu tento me ver no papel dos gringos que vem para o Brasil e vêem pela primeira vez as paisagens exuberantes. A Cidade do Rio de Janeiro sem dúvida é impressionante à primeira vista. Mas infelizmente também impressiona o primeiro contato visual com os morros tomados por barracos. Essa triste realidade a qual nós nos acostumamos deve ser tão chocante aos olhos deles quanto a visão do Corcovado surgindo imponente com o Cristo de "braços abertos sobre a Guanabara". Mas esse também não é o motivo de minha oposição aos jogos.

Uma cidade poderia ganhar muito com esse evento. Barcelona aproveitou muito bem as obras e a atenção dos jogos de 1992, e hoje é um dos principais destinos turísticos da Europa. A verdade é que eu não acredito que funcione no Brasil, e os Jogos Panamericanos de 2007 são um indício altamente perigoso. Um orçamento inicial de 400 milhões foi escandalosamente convertido num gasto final oficial de 4 bilhões! Para os jogos de 2016, já se fala em quase 26 bilhões de reais!!! Quanto será realmente gasto? Ainda que muito desse dinheiro deverá ser gerado por empresas privadas, quanto desse montante não poderia ser aplicado em um sem número de obras e ações necessárias para o país?

Sem esquecer a criminalidade, que infelizmente não será erradicada até 2016. Fala-se sobre o acordo que existiu entre os morros e o governo fluminense durante o Pan. Simplificando, o que terá sido oferecido para que a bandidagem "pegassem leve" e abrissem mão de um período de "fartura de trabalho" sem precedentes na história recente? E o exército nas ruas? É assustador pensar nas possibilidades.

Resumindo, são grandes oportunidades e grandes responsabilidades. Possibilidades inéditas, muitas opções e soluções. Um Rio de Janeiro melhor? OU muito mais do mesmo?

O fato é que a escolha já foi feita pelo COI. Espero que, quando vier o dia, eu possa tomar o trem bala no centro de São Paulo para chegar em 90 minutos ao Rio de Janeiro e assistir a um fim de semana dos jogos mais bonitos da história, com a certeza de que todo aquele trabalho e dinheiro investidos valeram muito a pena. Por enquanto, sigo amaldiçoando o COI.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cuica Poste: Desafio Intermodal

Saiu na Grobo.com, o resultado do Desafio Intermodal, e o vencedor foi: a bicicleta!

Pra quem não conhece, esse desafio indica um ponto inicial e um destino. O percurso deve ser percorrido por diversos veículos diferentes e, ao final, descobrimos qual é a forma de transporte mais veloz dentro da cidade de São Paulo.

Pra quem duvida que a bicicleta é sim uma opção de transporte, confira a reportagem, tire sua magrela da garagem, passe um paninho para remover o pó acumulado em 8 anos, e deixe seu carro tranquilamente estacionado. Menos estresse, mais saúde e, como se vê na reportagem*, menos tempo perdido.

* desconsidere a piada sobre as ciclovias ao final da reportagem...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Monções de Inverno

Hoje é dia 9/9/9. Para mim, não significa nada especial, mas ontem foi sim um dia estranho. O sul do Brasil foi assolado por fortes tempestades. Eu chegava do interior quando me deparei com um trânsito fora de lugar. Chegando na ponte cidade Universitária pude entender a razão. A visão que eu tive, por si só, explicava o tamanho do estrago.

O Rio Pinheiros estava completamente cheio. A água alcançou os trilhos da linha de trem. Ainda que haja diversas explicações, ou adversidades que levaram a isso, ficou claro que choveu numa quantidade impressionante. O site Climatempo afirmou ter chovido em um dia cerca de 90% do esperado para o mês.


Ainda destinarei algumas postagens sobre o Rio Pinheiros, mas o que grita aos olhos neste episódio é: o que está acontecendo com o clima?


Em Santa Catarina foram identificados três tornados, todos F1, com ventos de 105 a 180 km/h. Em 2004, lá mesmo, ocorreu o primeiro ciclone formado no Brasil, que causou grande destruição. A questão é que tornados e ciclones não são fenômenos comuns para nós. Assim como chuvas de granizo do tamanho de bolas de golfe. Muito menos tempestades tropicais em setembro em São Paulo.


Neste ano, tivemos um verão um pouco estranho e um inverno chuvoso, o que não costuma acontecer. Sempre ouvi que o clima aqui é de verões chuvosos e invernos secos. Será? O Aziz Ab'Sáber já deve estar preparando os novos livros escolares dizendo que o clima agora é inclassificável.


Aí então você, caro e paciente leitor, se pergunta porque raios eu estou falando disso. E a resposta é muito simples: a cidade não está preparada para essas mudanças. Não há um paulistano sequer que não saiba que quando chove, a cidade para. Sempre foi assim. Agora, ao menos, não temos que nos preocupar em nos prevenir para as chuvas do primeiro trimestre. Relaxe. Pode ser que não chova uma gota, e no dia primeiro de abril chova 90% do esperado para o semestre. Quem sabe?


Se você ainda não sabe do que eu estou falando e está se perguntando “o que eu posso fazer se São Pedro surtou de vez?”, fica a lição de casa. Acesse www.pintoulimpeza.com.br e dê uma olhada. Esse site é uma iniciativa muito bacana da rádio Eldorado, e dá algumas dicas de como você pode fazer muito para ajudar a evitar essa situação, apenas mudando seus hábitos. Você não vai salvar as Maldivas de serem engolidas pelo mar, e talvez ajude pouco Kamilo Beach, mas pode evitar que os rios paulistanos inundem.


Para ser bem sincero, não há mesmo nenhum mal em jogar na calçada o papelzinho do seu chiclete. Espero apenas que os outros
11.037.592 de paulistanos não masquem chicletes.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Cuíca Poste



Como já escrevi ontem e as duas últimas postagens não foram nem positivas nem negativas, vou fazer aqui uma postagem rápida, até para não caducar a reportagem.

O tema é interessante: uma conhecida marca de tintas criou um projeto de pintura de fachadas para alguns pontos da cidade. Neste caso, sob a supervisão do arquiteto Bruno Padovano, de quem fui aluno na FAUUSP, o Bixiga foi escolhido.

Achei bacana a iniciativa, boa para todo mundo. Chama atenção para o bairro, comércio e afins. É uma jogada de marketing interessante para a marca. É bom para os moradores, que dão um "tapa" na casa sem gastar um tostão.

São imóveis de pouco valor arquitetônico que acabam valorizados como um conjunto. Me lembra aquelas cidades mexicanas - nas quais nunca estive - ou algumas cidades de interior, como Santana do Parnaíba. No Pelourinho - no qual só fui à noite - houve uma ação semelhante.

Vejam as fotos aqui.

Alguém já usou uma roupa azul mergulho com detalhes em bala de cereja? Espero que não...

ps: se esse blog vingar, podiam me pagar alguma coisa, porque o que tem de propaganda gratuita aqui... Por outro lado, acho que o que é bom deve ser ressaltado, assim como criticado o ruim. Não sou a Globo para entrar na casa do sujeito e sair virando rótulos para não aparecerem na reportagem.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Espaço K

Os problemas de trânsito serão assunto recorrente neste blog. Considero um dos maiores problemas da Cidade de São Paulo. Difícil de resolver, difícil de esquecer. Faz parte do dia a dia de praticamente toda a população da cidade.

Eu não gosto do Ford Ka. Acho um carro ruim. É fraco, mal acabado, feio. Mas, de fato, é um dos únicos carros projetados com inteligência.

Primeiramente, é um carro pequeno, adequado para quatro pessoas, para o dia a dia. O automóvel foi criado com uma expectativa diferente do que vemos hoje. Se o Sr. Ford esperasse que todos tivessem seu veículo, certamente teria criado um veículo individual.

O conceito do carro visa algo como um carro por família, o motorista e quatro passageiros, porta malas grande etc. O mercado de carros para a família sempre existirá, mas a maioria dos veículos transporta de uma a duas pessoas.

Segundo: tem baixo consumo. O Ka é um carro econômico. Atende bem a essa necessidade. Nos EUA, o governo está subsidiando as revendedoras para que dêem 4500 doletas aos donos de carros velhos beberrões o troquem por um novo, menor e mais econômico. Sem comparações, apenas demonstro que até a Meca do automóvel já entendeu o recado. E lá a gasolina é mais barata que aqui.

Terceiro: facilmente manobrável. Até por ser desenhado com os eixos o mais afastado possível entre si, é um carro com boa desenvoltura. É arredondado nas pontas. Facilita manobras e principalmente balizas.

Quarto: o preço. Pode ser uma boa opção para uma família de baixa renda substituir aquela Belina 73 verde, gastona, barulhenta e grande. Afinal, pode ser o sonho de consumo ter um carro pequeno, mas quantos podem ter um Mini Cooper (R$ 92,5 mil)?

Reitero, não gosto do Ford Ka. Mas não se pode ignorar que alguns preceitos de projeto deveriam ser copiados em veículos novos. Acho que um grande problema é o motor fraquíssimo. Convenhamos, São Paulo não é exatamente plana! Um motor melhor agilizaria o desempenho, diminuindo o consumo – quando se força um motor 1.0, acaba-se gastando mais que um 1.6 - em certos casos.

Acabou-se a era das banheiras beberronas. Alguns carros bem pequenos já apareceram no mercado como boa opção. Mas ainda acho que está para vir um sucesso de vendas para duas pessoas que atenderá a maior parte dos usuários do dia a dia. Ainda pretendo voltar a essa questão do espaço.

A verdade é que, por hora, é o que temos. Ao menos, hoje eu pude usufruir disso. Na mesma rua lotada que eu estaciono nas raras vezes em que venho de carro, só sobram espaços rejeitados pelos motoristas de carros grandes. Hoje, nem os Pálios e Corsas se engraçariam com a “minha vaga”. O Espaço K estava lá me esperando. Talvez houvesse um Mini Cooper, se fosse 67,5 mil reais mais barato.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Otimismos Brasileiros*

*postagem chata; vá direto ao destaque no final do texto se estiver sem paciência para ler os dilemas existenciais deste blog.

Quando me deparo com esses escândalos políticos, tenho dificuldade em projetar um futuro mais interessante para o Brasil. Chega a ser engraçado que as notícias do Senado sejam sobre escândalos e não sobre votações e leis. Esse conjunto da obra que se apresenta nas páginas dos jornais destinadas a política há tanto tempo me tira qualquer perspectiva otimista de alguma mudança. Sei que não sou o único, mas quando era perguntado sobre o tema, sempre respondia de forma descrente, o que me valia o rótulo de pessimista.

Há uma mentira e uma verdade nessa afirmação. Sou absolutamente descrente em relação ao futuro brasileiro a curto prazo, ao menos enquanto esse enorme conjunto de defeitos crônicos - tão exposto nesses dias atuais - imperar em nossos governantes. Mas a minha natureza não é de forma alguma pessimista. Prefiro me achar otimista. E realista.

A definição de otimista não poderia ser mais simples: é o pensamento positivo, ainda que surgido numa situação adversa. O otimista é a pessoa que busca soluções, que tenta enxergar as possibilidades. Paulo Francis dizia que todo otimista é um mal informado. Esse é um comportamento tipicamente pessimista, descrente. Ser realista é necessário para que o otimista não seja um mero sonhador.

Essa longa introdução serve apenas para definir melhor a intenção do blog Viva São Paulo. Tento aqui alternar postagens positivas e negativas. Tento não ser pessimista em nenhuma postagem, ainda que busque sempre ser realista. Difícil fechar os olhos para as duras realidades de nossa cidade. Prefiro dizer que as negativas são de fato críticas construtivas. Não viso agredir ninguém.

Busco apontar o lado bonito e interessante de São Paulo. Sei que muita gente simplesmente não consegue vê-lo, e espero ajudar a destacar o que temos de bom. E antes que alguma baixinha irritada diga lá do Ipiranga que eu só falo da Vila Madalena, devo dizer que as limitações do blog são as minhas próprias, e eu falarei de que conheço, dos lugares aonde já fui. Sugestões são bem vindas. Assim como textos interessantes.

Pessimismo é dizer que uma andorinha não faz verão. É, pelo menos, bastante cômodo. Deixe seu traseiro confortavelmente espalhado na poltrona, jogue a responsabilidade pelas suas ações para os outros e certamente tudo continuará igual. Ou pior.

Destaque no final do texto

Por último, destaco o site www.hnheadlines.com, criado por um garoto estadunidense de 12 anos. Conforme destacou o portal Terra em uma matéria, o menino criou o site para relacionar apenas notícias positivas, e tem 5 mil acessos diários (aproximadamente 1,7 mil vezes mais que este blog e seus três leitores fiéis). Eu quase não assisto jornais na TV por não gostar das intermináveis seqüências de tragédia diárias; prefiro escolher o que ler na internet. Mas fica aqui a dica de uma iniciativa bastante positiva. Espero que alguém no Brasil adote essa idéia.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Festa na Havaí

Um dia desses fui parar meio que por acaso numa festa na rua Havaí. A noite começou num programa tipicamente paulistano: encontrei-me com amigos da FAU no Conjunto Nacional, aonde fica a maravilhosa livraria Cultura. Para quem nunca visitou, faço questão de fugir do texto para comentar a respeito. Fui conhecer a loja gigante com um atraso considerável, no mínimo embaraçoso para quem se propõe a escrever sobre a cidade de São Paulo, e fiquei alucinado.

O espaço é enorme, a quantidade de títulos é assustadora, mas o bacana são os extras, como o teatro, o café e à possibilidade de você ficar a vontade lendo um livro deitado num pufe. Como crítica, achei o local muito barulhento, justificável por ser um espaço aberto. Enfim, vale a pena passar por lá. E foi o que fizemos nesse dia, mas a intenção não era ficar, e descemos em direção aos Jardins para mais um clássico paulistano.

A Lanchonete da Cidade estava abarrotada, com grande fila de espera. Eu tenho a seguinte opinião: se você vai da zona Oeste até a Serra da Cantareira porque quer jantar no Velhão, uma hora de espera pode ser suportável; no meio dos Jardins, com tantas opções, ande 20 metros e seja feliz! Fomos até o Achapa, na Melo Alves, que eu não conhecia. Não se tornou minha predileta, mas serviu muito bem ao propósito daquela noite. Ainda na lanchonete fui informado da tal festa no Sumaré, de um amigo de uma das meninas, que era bailarino, artista e parkour... e que a festa era tradicional, ficava num local diferente etc. Pouco depois, rumava para lá, sem saber exatamente aonde estava me metendo.

A festa acontecia num trecho sem saída da rua Havaí. A casa, uma das últimas, estava toda aberta, as portas eram funis de gente, entrando e saindo para buscar cervejas ou para dançar. Até aí, nada demais, não fosse uma particularidade: a rua se interrompe num barranco aonde há uma praça e um escadão desce acompanhando a encosta. A festa se estendia para o platô mais alto, de onde se tem uma vista panorâmica incrível de todo o vale da Vila Pompéia. Devo ter perdido (ganho, na verdade) alguns bons minutos da festa apreciando a vista. Ainda que muito escuro, devido à quantidade de árvores que surgem, o vale é muito bonito. As pessoas tomavam o final da rua, que era um prolongamento à céu aberto da festa . Não notei nenhum vizinho reclamando (se é que não estavam por lá requebrando os quadris).

A casa do aniversariante era pequena e antiga. A sala estava tomada de pessoas que dançavam sem se importar com a seleção de músicas em tempo real do DJ I-Pod. O público era bastante diversificado e se viu de tudo por lá. Encontrei alguns rostos conhecidos e amigos, conheci pessoas interessantes. Dispensei minha carona para ficar mais um pouco, e acabei indo embora só no final da festa, passando tranquilamente por um hiato no fornecimento de bebida que esvaziou um pouco a casa, no meio da madrugada.

Mas o mais bacana foi a sensação de estar numa daquelas festas que a gente só vê em filmes. Num local improvável, com uma vista maravilhosa, com pessoas na rua, com gente bonita dançando, bebendo e conversando. Amigos e agregados, muita gente ficou sabendo no boca a boca. Nem todos conheciam o aniversariante, contando comigo, mas ele fazia questão de cumprimentar e deixar todos a vontade. Os convidados levavam as bebidas, e até aonde teve bebidas, houve convidados.

Sai de lá com a sensação que a São Paulo alternativa, que não aparece nos sites de baladas e nas colunas sociais, longe de ser engolida pelo politicamente correto insuportável desses dias atuais, está mais forte do que nunca. E numa festa como essa, se misturou um pouco do sossego e da tolerância à moda antiga de um bairro tradicional com a alegria das festas GLS, que muita gente gosta de rotular de moderninhas. São Paulo não é apenas o óbvio dos negócios, das avenidas entupidas de carros, da massa disforme de edifícios, da violência nas periferias extensas. Às vezes, ao lado de uma dessas avenidas, você encontra um lugar surpreendente. E se der sorte, algo mais surpreendente pode estar acontecendo por lá.

Esse post ficou com cara de diário pessoal, mezzo merchan, mezzo coluna social, mas é mais um dos tantos retratos do cotidiano incrível que temos em São Paulo. Mas nada impede que você gaste sua noite de sábado vendo a reprise do último capítulo da novela, casamentos, o assassino descoberto, inimigos reatando antigas amizades, essas novidades todas...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O caos sonoro

Não é de se estranhar que uma cidade deste tamanho seja tão barulhenta. A poluição sonora na cidade de São Paulo, em determinados ambientes, ultrapassa em muito o limite do aceitável. Ou do suportável. Existe uma porção de maneiras e números para se provar isso, mas uma pessoa não precisa estar ao lado da turbina de um avião para entender que 110 dBA é um barulho insuportável.

Enfim, quem foi morar em Moema não tem o direito de reclamar! O Aeroporto de Congonhas têm 73 anos, facilmente uns 20 a mais que a primeira casa (não sede de chácara) do bairro. Assim como eu acho complicado reclamar do som de torcida nos estádios do Morumbi, ou Pacaembu. Deve ser difícil para um morador de uma antiga tranquila avenida ser obrigado a se mudar em função do som dos carros ou ônibus, mas essa é a dinâmica da cidade. Se não se comportar quase que organicamente, está morta. A cidade muda.

Acontece que muitas vezes a origem no problema é a população. Geralmente passa pela falta de respeito. Quase sempre ocorre pela falta de bom senso. É comum que a pessoa não se dê conta. É popularmente tratado como falta de simancol. Não é nome de remédio, mas bem que poderia haver um, genérico mesmo, baratinho, distribuído em postos de saúde, gratuitamente.

Um bom exemplo é a velha e boa(?) buzina. O sujeito simplesmente senta a mão no meio do volante à qualquer sinal. Vai trocar de faixa, buzina. Quase foi fechado, buzina, janela aberta e uma sonora saraivada de impropérios. Não foi fechado, buzina - pra garantir, nunca se sabe. Até aí, citei casos aonde ela pode ser necessária. Mas, em meus dez anos de experiência como motorista, confesso que nunca consegui executar o milagre dodesengarrafamento através das orações monotônicas do veículo.

A Código de Trânsito diz que a buzina deve ser usada comente em casos emergenciais. "Vamos logo, cara. Buzine que já entramos no túnel!" Melhor nem comentar. Assim como vou passar os motoqueiros gerando aquela explosão no escapamento. Assunto autoexplicativo. Tem a ver com a teoria evolucionista de um tal de Carlos Roberto Darwin.

Por outro lado, é com imenso prazer que eu critico os chatos de celular e rádio. O sujeito acha que o Nextel é um walkie-talkie. É o desejo de ser segurança de boate: "QAP, QRA?" Mas o grande problema é que de Nextel pra Nextel sai muito barato falar, então tem gente que só se comunica pelo rádio, fazendo questão de deixar em viva voz, para todos à sua volta saberem o drama está passando a assistente de produção! Falar apenas alto é parte do passado; tem que ouvir a resposta alto também.Sem citar aquele bipe.

É muito chato! O Nextel pode ser usado como um celular, não é difícil. Se você aprendeu a usar o garfo e a faca, garanto que conseguirá apertar o botão sem vê-lo. Ainda tenho esperanças que, um dia, usar o rádio em viva voz seja considerado tão cafona quanto usar pochete à frente. Até esse dia, continuarei olhando feio para os chatos de Nextel.

Já o celular com música, temo que seja inevitável. Quem nunca teve o prazer de ouvir as últimas novidades do forró arrastado pé-de-serra em alto (e mau) som no conforto de uma viagem de ônibus? Melhor ainda: aquela moça que resolveu escolher o toque do celular enquanto espera na fila do banco. É tanto fanqui carioca bom que nem sabe o que pôr. Lembro claramente da vez que sentei abaixo do adesivo "proibido uso de aparelhos sonoros", mas quem tocava brega no celular era o cobrador. Para quem reclamar? Temo pelo futuro. Dias negros virão...

A verdade é que educação e cidadania não surgem de uma hora para a outra. Para quem não gosta de cobrar dos outros uma postura melhor, seguramente não haverá problemas em melhorar a sua própria postura. Antes de buzinar, pense. E desligue esse viva voz. QSN?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O nosso pôr do sol

Um dia desses fui sozinho passar o final da tarde na famosa Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro. A respeito do sujeito em questão não dá pra saber muita coisa. Dizer que ele foi genro do terceiro Barão de Monte Santo não ajuda muito! Talvez por isso o nome da praça apareça sempre acompanhado do apelido: Praça Pôr do Sol.

Encosto a minha bicicleta na grama e me deito à frente, apoiando a cabeça no selim. Me culpo por ter esquecido o livro. Mas não é um grande problema. O panorama compensa. Veja aqui!

Pela praça se vê de tudo. Famílias com cachorros, famílias sem cachorros, adolescentes e jovens, adultos e casais. No canto direito jovens pais cuidam de seus filhos que brincam no parquinho. Á minha frente três moças bonitas se sentam sobre uma canga e brincam com uma pitbull branca mansa.Outras pessoas levam toalhas, ou até cadeirinhas. Mais abaixo costuma ficar o pessoal que leva instrumentos musicais. O som não chega encima, pois a praça é declinada. Outros levam vinho, cerveja, comida, salgadinhos.

No verão o pessoal fica bastante tempo por lá, tomando sol, jogando conversa fora, vendo o dia passar, acompanhando o caminho do sol pelo céu paulistano, até seu derradeiro descanso próximo a um conjunto de edifícios vizinhos ao Parque Villa-Lobos. No inverno a praça fica com cara de parque europeu, com pessoas agasalhadas se aquecendo voltadas para o oeste, esperando o evento que apelida a praça, que geralmente é acompanhado por alguns aplausos (pra quem prefere o pôr do sol a um chopp na Vila Madalena, aplaudir deve ser quase natural).

A Praça Pôr do Sol parece ser uma imagem daquilo que São Paulo queria ser. O céu que nem parece tão poluído quando se tem à sua frente a vista do arborizado Alto de Pinheiros, seguido pelo verde intenso do Campus da Cidade Universitária. Alguns edifícios cortam o horizonte, mas nada parecido com os maciços cinzentos espalhados por toda a cidade. As pessoas que frequentam o lugar costumam ser educadas. A praça quase sempre está limpa, com a grama cortada. Não há muito barulho.

De sua encosta se vê uma São Paulo muito bonita, que não condiz com o pensamento pessimista do paulistano. Vistas como esta, e tantas outras desconhecidas, em qualquer cidade do mundo seriam belos cartões postais, motivo de orgulho, locais de visitação, de turismo. Mas o paulistano costuma ser mau vendedor, porque prefere exaltar os pontos negativos, como se dissesse: "não diga que eu não avisei!"

Enfim, separem um dia de sol de um desses domingos sossegados e vá até a Praça Pôr do Sol. Leve uma câmera fotográfica, um livro, algo para beber, petiscar, amigos, crianças, cachorros (e os saquinhos...). Após os aplausos, não esqueça de deixar o local limpo, apesar da pequena quantidade de lixeiras; se você o trouxe quando ainda se chamava embalagem, pode levá-lo também quando se chamar lixo.

Segue uma foto tirada com o celular nesse dia. Aparecendo o conjunto de edifícios, esse poste e um belo pôr do sol, já se sabe de onde foi tirada a foto.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Inferno Diário

O trânsito deve ser uma das piores rotinas que temos em São Paulo. Não há como negar o caos diário. Se tempo é dinheiro, imaginem os milhões e milhões de reais perdidos todos os meses na capital financeira do Brasil. Trajetos que são feitos à noite em trinta minutos levam às vezes duas horas para serem feitos na hora do rush. Ah, sim... qual é a hora do rush?

Conceitos historicamente usados como desculpas crônicas pelas administrações municipais - sempre empurrando o problema com a barriga - tais como hora do rush, gargalos e afunilamentos, excesso de veículos etc. já não valem mais. Pergunte a qualquer taxista (se tiver coragem de tomar um taxi!): "qual é a hora do rush?" A resposta é fantástica: "não tem!", ou "o dia todo".

Antigamente, perdíamos meia hora pra cruzar uma avenida e depois disso o trânsito fluía. Esses eram os pontos críticos de trânsito. Às vezes a supressão de uma pista gerava igual transtorno. Hoje em dia, depois do gargalo tem mais engarrafamento. Passar a tal avenida é ainda mais difícil, porque o motorista tem que adivinhar se os carros que estão à frente vão andar ou se ele vai bloquear o cruzamento.

Excesso de veículos, ao menos, é uma desculpa que nunca vai caducar! Desafio qualquer pessoa a pegar um ônibus cheio, passar uma hora de pé se segurando enquanto o motorista conduz impaciente o ônibus num acelera-freia que joga uns contra os outros, para finalmente, se espremer constrangedoramente pra chegar à porta, e preferir isso ao conforto de um automóvel. Sem citar uma infinidade de variantes desagradáveis que ainda podem ocorrer para tornar essa rotina ainda mais desconfortável.

Com a qualidade dos nossos transportes públicos é difícil condenar o "egoísmo" dos que preferem o transporte particular. Ainda que podemos sim condenar o fato de que grande parte dos veículos - preparados pra levar não menos que cinco pessoas - são em sua maioria ocupados pelo condutor apenas. Esse assunto dá muito pano pra manga, e pode ser discutido em diversas frentes, em diversos aspectos. Eu tenho algumas opiniões bastante polêmicas e pretendo expô-las aos poucos.

Discutir São Paulo sem criticar certos - e muitos - pontos é quase impossível. Pretendo mostrar nesse espaço o que, na minha opinião, a cidade tem de bom, ainda que exista muitos problemas a serem resolvidos. Tentarei alternar as críticas com os elogios.

E só pra deixar um gancho: Viva a bicicleta!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Paisagens Urbanas - Introdução


São Paulo é uma cidade incrível. Muita gente diz que a cidade é feia, que é uma massa cinzenta de edifícios. Isso é relativo, uma questão de ponto de vista. A priori, não é mesmo uma cidade bonita vista de cima, ao menos em grande parte de suas ruas. A beleza de São Paulo está nos detalhes, no olhar mais apurado, e estou falando de paisagens mesmo.


Vistas de imagens de satélites, a maioria das cidades lembra um câncer roxo na terra. As diferenças vão se acentuando à medida que se aproxima mais. No caso de São Paulo - uma megalópole de 1.522,986 km² sem grandes marcos aparentes de beleza - temos que chegar quase no nível do solo para encontrarmos o que buscamos. Mas afinal, qual é o nível do solo?

É nesse ponto que São Paulo se destaca, na topografia. Nem os grandes movimentos de terra que foram feitos ao longo do séc. XX conseguiram esconder os vales e morros, nem os edifícios espalhados pela cidade conseguiram bloquear todas as vistas. E não são poucas. Ainda que esses marcos topográficos não sejam explorados, senão como uma forma de se vender apartamentos cada vez mais altos com suas sacadas gourmet.

No centro expandido, temos o vale do Rio Pinheiros se juntando mais a frente ao vale do Rio Tietê. Entre eles, o espigão começando na Lapa e rumando em direção à Paulista, aonde segue em ligeiro declive para a Zona Sul. De um lado, às íngremes encostas caem para Alto de Pinheiros, Pinheiros, Jardins, Paraíso, Vila Mariana. Do outro lado, Alto da Lapa, Perdizes, Sumaré, Pacaembu, Higienópolis, Consolação, Boa Vista, Aclimação. Fora do centro expandido temos o relevo acidentado da zona norte em direção ao paredão da Serra da Cantareira.

Na outro oposto, o impressionante relevo da Giovanni Gronchi faz surgir e desaparecer vistas da gigante zona sul, que só termina na Serra do Mar. No centro, a bonita vista do vale do Anhangabaú revelando os primórdios de uma cidade de 455 anos, fundada numa colina escarpada entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú.

Ninguém mais vê um porto na ladeira Porto Geral, ou tampouco as águas correndo pelo caminho da 25 de Março. Os magníficos meandros do Rio Pinheiros hoje podem ser percorridos em linhas retas, passando pelas usinas de traição que inverteram seu curso rumo à Represa Billings, que abastece a Usina Hidroelétrica Henry Border; co-responsáveis pelo desenvolvimento da maior e mais rica cidade brasileira.

Até a Casa Bandeirante do Butantã, um dos poucos marcos da arquitetura paulistana anterior ao séc. XIX ainda de pé, foi parar na outra margem do rio! Alguns marcos geográficos não são mais os mesmos da São Paulo antiga, mesmo numa história recente. O dinheiro e o desenvolvimento alteraram a paisagem, na maioria das vezes de forma definitiva. Mas também criaram outros caminhos, outros marcos e paisagens.

É fácil comprovar. Basta olhar para as encostas ainda verdes de Alto de Pinheiros e Alto da Lapa, de onde se pode ter uma vista panorâmica da cidade. Ou buscar o espetáculo que reúne tanta gente nos finais de tarde na Praça Por do Sol, com o olhar passando pela zona sul e Cidade Universitária para parar nas proximidades do Pico do Jaraguá, aonde o sol se esconde sob aplausos. Andar pelos caminhos íngremes e escadões da Vila Madalena e Perdizes, ou pela Vila Pompéia, incrustada num vale profundo. A magnífica vista do vale da Avenida Nove de Julho a partir das sacadas do MASP, comparável somente à vista da Avenida Sumaré sobre a – ou pela – estação de metrô de mesmo nome, que termina no mesmo longínquo paredão que limita a zona norte.

Cito as regiões do centro expandido, mas para as quatro direções encontramos vistas muito bonitas, conhecidas por poucos. Seja na casa Verde ou na Vila Sônia. Pela Zona Norte e Leste ainda podemos rumar pelos caminhos tortuosos que marcavam as antigas estradas que ligavam a São Paulo ao resto do Brasil, e não poucas vezes somos presenteados com vistas panorâmicas em mirantes pouco explorados.

Enfim, quando pensamos em São Paulo, esquecemos de lembrar que a cidade foi construída sobre uma riquíssima região de Mata Atlântica, permeada de morros, vales e rios, cercada por paredões de serras, riquíssima em marcos topográficos. Chamá-la de massa uniforme e feia é muito fácil para quem só sai na rua para entrar num carro, ou para quem acha que uma cidade só é bonita se termina no mar.

As paisagens de São Paulo aparecem e desaparecem numa velocidade muito rápida, escondidas entre edifícios e viadutos. Às vezes é preciso ir mais devagar, caminhando ou pedalando, prestando atenção, observando. O caminho entre sua casa e o trabalho pode ser muito mais interessante do que você pensa. Já tentou olhar?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Parabéns São Paulo

São Paulo completou hoje 455 anos de existência. Datas são importantes, interessam a muita gente e ficam registradas nos livros para as gerações futuras. Eu não me importo muito com datas. Talvez seja minha desculpa para uma péssima memória para cronologias. Enfim, 25 de Janeiro é um bom dia para começar um blog que tem como tema a cidade de São Paulo. Mais um!

"Se há tantos blogs a respeito de nossa cidade, porque você está começando um novo, numa data cliché, com um título cliché?".

A resposta é muito simples. Porque eu estou cansado de ouvir as pessoas falando sobre São Paulo.

"O trânsito é infernal", "não me sinto seguro nas ruas", "a cidade é poluída e feia". O que mais? Vamos lá pessoal... há uma lista interminável de ofensas, merecidas ou não, que sempre usamos para descrever nossa cidade. Tenho certeza que cada um de nós tem uma lista pessoal muito ampla. Mas aí entra na conversa aquele idealista chato e pergunta: "o que você faz pra mudar isso?". Pra ser sincero, eu também não gosto desse tipo de papo. Mas a verdade é que a grande maioria de nós não faz muita coisa. O paulistano tem um senso crítico que é um dos fatores responsáveis pela força econômica de nosso estado, mas que também nos leva a desgostar de nossa própria casa.

Eu também odeio engarrafamentos, em muitos lugares eu também tenho receio por minha segurança. Certas regiões da cidade passam longe de serem locais agradáveis. Mas eu sou paulistano, nascido e criado em São Paulo; amo minha cidade e tenho orgulho dela. Cansei de ouvir a mesma ladainha dos derrotistas que só fazem criticar a cidade. Cansei de ver pessoas que, na intimidade, admitem que não viveriam em outro lugar mas que em público criticam ferrenhamente a cidade. Cansei desse complexo de vira-lata, da cidade-pra-ganhar-dinheiro, do "mas se São Paulo tivesse uma praia...", do "eu não gosto, mas preciso".

Está na hora de o Paulistano - habitante do centro econômico do Brasil - parar de marginalizar sua própria cidade, e de se marginalizar por conseguinte. Não temos a Bahia de Guanabara, nem a Ilha de Itaparica. Não cantamos nossa cidade como baianos e cariocas fazem com tanto gosto pelas suas. Tampouco como os gaúchos o fazem com seu orgulho regionalista.

Mas temos São Paulo, uma verdadeira jóia brasileira. O patinho feio que já virou cisne, cresceu, provou e comprovou seu valor. Há 150 anos atrás éramos uma vila pobre e hoje somos a cidade mais rica do hemisfério sul. Desde os bandeirantes, quando o Brasil tinha aproximadamente um terço de seu tamanho atual, São Paulo vem fazendo o Brasil crescer. Em tamanho, em importância e em riqueza. São Paulo está no centro da história brasileira.

Esse blog é um recado para os todos os paulistanos. Aos que nasceram, aos que vivem, aos que ganham seu dinheiro aqui. Aos que querem ser, querem fazer parte de nossa cidade. A todos os quase 11 milhões que a Wikipédia diz ter. Quem quiser, está convidado a se unir a mim e a tantos que concordam comigo. Se não concordar, ao menos leia e dê sua opinião. Não há verdades absolutas, mas está em nossas mãos fazer dessa cidade um lugar melhor. Começa em nossas mentes e passa por nossas bocas. O primeiro passo é aprendermos a gostar de nossa cidade. O que vêm depois é consequência.

Não basta que se viva em São Paulo. Viva São Paulo. Viva, São Paulo!

Parabéns pelos seus 455 anos. O Brasil agradece.