segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Festa na Havaí

Um dia desses fui parar meio que por acaso numa festa na rua Havaí. A noite começou num programa tipicamente paulistano: encontrei-me com amigos da FAU no Conjunto Nacional, aonde fica a maravilhosa livraria Cultura. Para quem nunca visitou, faço questão de fugir do texto para comentar a respeito. Fui conhecer a loja gigante com um atraso considerável, no mínimo embaraçoso para quem se propõe a escrever sobre a cidade de São Paulo, e fiquei alucinado.

O espaço é enorme, a quantidade de títulos é assustadora, mas o bacana são os extras, como o teatro, o café e à possibilidade de você ficar a vontade lendo um livro deitado num pufe. Como crítica, achei o local muito barulhento, justificável por ser um espaço aberto. Enfim, vale a pena passar por lá. E foi o que fizemos nesse dia, mas a intenção não era ficar, e descemos em direção aos Jardins para mais um clássico paulistano.

A Lanchonete da Cidade estava abarrotada, com grande fila de espera. Eu tenho a seguinte opinião: se você vai da zona Oeste até a Serra da Cantareira porque quer jantar no Velhão, uma hora de espera pode ser suportável; no meio dos Jardins, com tantas opções, ande 20 metros e seja feliz! Fomos até o Achapa, na Melo Alves, que eu não conhecia. Não se tornou minha predileta, mas serviu muito bem ao propósito daquela noite. Ainda na lanchonete fui informado da tal festa no Sumaré, de um amigo de uma das meninas, que era bailarino, artista e parkour... e que a festa era tradicional, ficava num local diferente etc. Pouco depois, rumava para lá, sem saber exatamente aonde estava me metendo.

A festa acontecia num trecho sem saída da rua Havaí. A casa, uma das últimas, estava toda aberta, as portas eram funis de gente, entrando e saindo para buscar cervejas ou para dançar. Até aí, nada demais, não fosse uma particularidade: a rua se interrompe num barranco aonde há uma praça e um escadão desce acompanhando a encosta. A festa se estendia para o platô mais alto, de onde se tem uma vista panorâmica incrível de todo o vale da Vila Pompéia. Devo ter perdido (ganho, na verdade) alguns bons minutos da festa apreciando a vista. Ainda que muito escuro, devido à quantidade de árvores que surgem, o vale é muito bonito. As pessoas tomavam o final da rua, que era um prolongamento à céu aberto da festa . Não notei nenhum vizinho reclamando (se é que não estavam por lá requebrando os quadris).

A casa do aniversariante era pequena e antiga. A sala estava tomada de pessoas que dançavam sem se importar com a seleção de músicas em tempo real do DJ I-Pod. O público era bastante diversificado e se viu de tudo por lá. Encontrei alguns rostos conhecidos e amigos, conheci pessoas interessantes. Dispensei minha carona para ficar mais um pouco, e acabei indo embora só no final da festa, passando tranquilamente por um hiato no fornecimento de bebida que esvaziou um pouco a casa, no meio da madrugada.

Mas o mais bacana foi a sensação de estar numa daquelas festas que a gente só vê em filmes. Num local improvável, com uma vista maravilhosa, com pessoas na rua, com gente bonita dançando, bebendo e conversando. Amigos e agregados, muita gente ficou sabendo no boca a boca. Nem todos conheciam o aniversariante, contando comigo, mas ele fazia questão de cumprimentar e deixar todos a vontade. Os convidados levavam as bebidas, e até aonde teve bebidas, houve convidados.

Sai de lá com a sensação que a São Paulo alternativa, que não aparece nos sites de baladas e nas colunas sociais, longe de ser engolida pelo politicamente correto insuportável desses dias atuais, está mais forte do que nunca. E numa festa como essa, se misturou um pouco do sossego e da tolerância à moda antiga de um bairro tradicional com a alegria das festas GLS, que muita gente gosta de rotular de moderninhas. São Paulo não é apenas o óbvio dos negócios, das avenidas entupidas de carros, da massa disforme de edifícios, da violência nas periferias extensas. Às vezes, ao lado de uma dessas avenidas, você encontra um lugar surpreendente. E se der sorte, algo mais surpreendente pode estar acontecendo por lá.

Esse post ficou com cara de diário pessoal, mezzo merchan, mezzo coluna social, mas é mais um dos tantos retratos do cotidiano incrível que temos em São Paulo. Mas nada impede que você gaste sua noite de sábado vendo a reprise do último capítulo da novela, casamentos, o assassino descoberto, inimigos reatando antigas amizades, essas novidades todas...

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