sexta-feira, 9 de outubro de 2009

São Paulo e(´) Música – Introdução






São Paulo é uma cidade estranhamente musical. Não seria estranho afirmar que aonde há  dinheiro há cultura. A cultura e a música estadunidense é difundida por todo o mundo. Mas a cidade aonde se respira um ar não muito agradável, respira música. Pode paracer estranho associar uma cidade tantas vezes estressante e caótica com a música, mas não é.

Não foi em 1922, na Semana da Arte Moderna, que a cultura surgiu em São Paulo. A cena cultural era já bastante forte. O evento culminou como uma celebração da nova cultura, genuinamente brasileira, que surgia. Ainda que não tenha surgido apenas em São Paulo, a cidade foi escolhida como palco. Penso que talvez essa escolha tenha sido uma forma de reafirmar a quebra com os valores passados, tão bem representados na Capital Federal, à época, a cidade do Rio de Janeiro.

De lá pra cá a cidade sempre foi um efervescente palco cultural. Principalmente da contracultura. Era difícil se projetar fora do eixo Rio São Paulo. Mais ainda no Rio de Janeiro.

Não por outro motivo o Tropicalismo viria a aparecer num clima subtropical. Quando lembramos dos mais famosos tropicalistas, logo vem à mente Gil e Caetano (sempre citados assim, como uma dupla sertaneja, ainda que há tempos não apareçam juntos), Tom Zé, Novos Baianos. Todos eles, em algum momento, viveram na cidade - Tom Zé, na verdade, se casou com a cidade. Vieram mostrar suas canções nos festivais da Record em São Paulo, e da Globo (no Rio). Sem esquecer da prata da casa: os Mutantes, a banda que melhor representou a cidade.

Quase uma década antes, a Bossa Nova surgiu com toda a sua elegância e sofisticação, de João Gilberto, do maestro Tom Jobim, do poeta Vinícius. Muitos artistas que não faziam parte desse grupo acabaram por se mudar pra São Paulo pra tentar a sorte tocando aquele som novo e contagiante que ouviam de Beatles e Rolling Stones. A Record, em 1965 lançava o programa Jovem Guarda, aonde Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléia, Vanusa, entre tantos outros, cometiam a heresia de tocar rock’n roll. Essas histórias estão todas muito bem relatadas no livro Noites Tropicais, do Nelson Motta (boa pedida!).

Essa busca do novo, às vezes até mais simples ou tosco, sempre foi mais forte em São Paulo que no Rio de Janeiro. “A sofisticação da Bossa” x “as guitarras do Iê Iê Iê”, “A anarquia artística do modernismo” x “A forte influência acadêmica francesa”. Claro que esta é uma maneira grosseira de analisar. Nem me passa pela cabeça comparar Bossa Nova com Jovem Guarda, apenas destaco a possibilidade da segunda ter existido.

Hoje, a cena cultural é mais homogênea; bastante forte em outras cidades. Em Salvador, em Brasília, no Recife, em Curitiba, em Porto Alegre,em Manaus, em todas elas e tantas outras se tem acesso à cultura. E mais importante, a possibilidade de se produzir. Mas São Paulo continua sendo a capital da cultura e da contracultura.

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