quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Infra-estrutura, São Paulo, Brasil



O prefixo infra, do latim ínfera, tem a mesma origem do adjetivo inferior,  palavra derivada do latim inferius - que não por acaso dá origem à palavra inferno, ou seja o que está abaixo de tudo. Inferior é o que tem qualidade ou valor mais baixo, mas também é o que está abaixo. No caso de infra, usado em infraestrutura (segundo a nova regra gramatical que o meu corretor do Word não conhece), o significado é semelhante ao adjetivo básica, no sentido de uma estrutura fundamental que permite que a partir dela se construa algo.

Há uma verdade incontestável: qualquer entidade, instituição ou governo, em qualquer grau ou tamanho, que busque desenvolvimento, crescimento ou estabilidade, deve investir em infraestrutura. Essa afirmação parte de uma lógica simples e bastante óbvia. Todas as cidades, todas as regiões, estados e países que buscam o crescimento investem em infraestrutura. Na verdade é tão óbvio afirmar isso que soa infantil e desnecessário.

O que assusta é pensar que o óbvio ululante não se concretiza em nosso país. O Brasil pensa que uma posição econômica favorável frente a uma economia global se recuperando de uma crise profunda será suficiente para que venha finalmente a ser o país do futuro. O Brasil pensa que ser a primeira letra de uma sigla que tenta destacar a nova posição de países emergentes, antes postos à margem das decisões globais, é suficiente para se garantir estabilidade e notoriedade.

Não entrarei na política, mas um pacote emergencial e pontual não sanará décadas de descaso e inoperância. Enquanto Rússia, Índia e China –sem contar Coréia do Sul, México, Indonésia, e mesmo Chile e Colômbia, entre outros - investem pesadamente em infraestrutura, buscando criar condições duradouras para crescimento e estabilidade econômica, o Brasil se arrasta sobre uma estrutura básica frágil e ineficiente, um dos principais motivos pelo crescimento econômico abaixo das possibilidades, crescente endividamento na balança comercial, perda crítica de oportunidades de negócios locais e globais, arrendamento dos commodities para nações estrangeiras em solo nacional, e mesmo uma provável futura estagnação econômica.

O Brasil não entende que não se pode construir um arranha-céu nos alicerces de um sobrado. Mas é o que se faz na maioria das vezes. E o Brasil é o seu povo, é o brasileiro, o povo do jeitinho. Toda essa questão é praticamente a aplicação do famoso (e equivocadamente esperto) jeitinho brasileiro em larguíssima escala.

O paulistano reclama da cidade por hábito. Acha que São Paulo é só trabalho e estresse. Porém, quando discute com nativos de outros estados usualmente lembra que a cidade é a capital financeira, econômica e cultural. Lembra também que São Paulo é uma das cidades com melhor infraestrutura no Brasil. Não sei se existe uma escala para investimentos de infraestrutura que faça comparações entre as principais capitais brasileiras. Mas é incontestável o poderio econômico da capital paulista para o Brasil.

Dentro da cidade podemos citar alguns centros empresariais de grande importância econômica, responsáveis por parcelas significativas da economia nacional, aonde milhões de reais são movimentados todos os dias. O mais conhecido é a Avenida Paulista. Na seqüência provavelmente viria Faria Lima e Berrini.

Atualmente eu trabalho na região da Berrini; um centro empresarial - bem ou mal - projetado para este fim específico. No começo da Avenida há uma uma enorme estação de força da Eletropaulo ligada a um grande terreno lindeiro à Marginal Pinheiros, com função parecida. Aparentemente energia não seria um problema. Difícil acreditar que é.

Nas últimas semanas tivemos inúmeras quedas de força que interromperam a produção, ou parte dela, por várias horas. Praticamente todos os prédios tem geradores de emergência que foram acionados quase diariamente.  Ou seja, a rede elétrica não é suficiente para a demanda atual. E novos prédios surgem a cada mês nos terrenos ainda vazios. Prédios projetados para 10 mil funcionários! Não há nenhum projeto de ampliação da rede elétrica local em execução, apenas reparos.

Esse é o retrato do investimento em infraestrutura no Brasil. Apenas aqui na Berrini é provável que alguns milhões de reais possam se perder pelo caminho com esses apagões. Em meio a uma das regiões financeiramente mais importantes da cidade economicamente mais importante do Brasil.

E quanto se perde nos portos, estradas, usinas, ferrovias, cidades, complexos industriais e tantos outros setores absolutamente deficientes de infraestrutura pelo Brasil? Esses milhões de dólares, euros ou reais certamente não são perdidos. Apenas vão para outros destinos, fora do Brasil.


Em tempo! Ontem, um apagão deixou uma área importante da cidade sem luz. Aqui, na Berrini, durou mais que os 24 minutos citados pelos jornais. Mas, já estamos nos acostumando. E tenho a ligeira impressão que apagar a luz ao sair da sala não será suficiente.


Infelizmente, o prefixo de nossa infraestrutura é muito melhor traduzido por inferior do que por básico.

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